segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Drummond já diz: mereça o ano novo.

Pro dia deitar sonhando. Sou o resultado desses amigos que tenho e do que recebo diariamente de afago, cuidado e demonstrações de afeto. Gente que sabe que viver com simplicidade é a coisa mais complexa que existe... E a mais sábia. É disso que sou feita: de um bocado de tanto amor. Mesmo quando dizem: tu és poeta. Poesia é fluidez (a poesia que há em mim não é suficiente para alcançar a poesia que é você). Sou o que estou e, isto sim, é perpétuo.
Nessa época há sempre um retrospecto, e quando fiz de nós dois, percebi o quanto mudei com você. Desculpa eu não te querer mais logo agora que a vida está sendo doce comigo. Eu não tenho mais tempo para ser aquela pessoa certa na tua hora errada.

Quando ele chegar vou estar pronta. Vestindo branco. E com algum colar de contas. É que 2009 será de riso e cafuné. Exatamente nesta ordem. Sou a protegida pelos meus Orixás. Sou minhas Meninas, meus Caboclos, meus Pajés. (SOU!)








sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ensaio sobre a dificuldade de escrever

Para uma boa leitura acontecer é necessário à priori, que estejamos diante de um texto bem escrito. E não estou falando dos grandes escritores, aqueles já considerados os Ases da literatura. E quanto mais lemos e escrevemos, maior – e melhor – é a nossa leitura de mundo. A pergunta: “por que as pessoas escrevem?”, veio em minha cabeça e parei para pensar naquelas respostas que já conhecemos: porquê elas têm algo para comunicar, viram a necessidade de mostrar a outros o que elas pensam sobre os assuntos que lhes dizem respeito. Por isso escrevem textos, livros, ou jornais ou em revistas. E eis o mérito que deve ser dado a Gutemberg. Porém, mesmo que muitos afirmem que ele seja o ‘pai da imprensa’, não foi ele quem a inventou pois quando ele nasceu (entre 1395 a 1400) a imprensa já existia, adivinda da Renascença italiana. Ele aperfeiçoou as técnicas de impressão e, graças a Gutemberg é que se tornou possível a transmissão da palavra escrita a um crescente número de pessoas. Aliás, a própria historia de Gutemberg parece uma reportagem mal feita, em que os dados seguros são poucos, as dúvidas e lacunas, muitas. De qualquer maneira, se nos faltam muitas informações sobre a vida e a carreira de Gutemberg, a culpa em boa parte é dele próprio: infelizmente o inventor não tinha o hábito de datar ou assinar seus trabalhos.
Antes de um menino que me vendeu bala na rua, o Miguel, eu nunca tinha escutado de qualquer pessoa, que ela gostaria de ser escritora. Nem eu mesma, aliás, apesar de ter sido, durante a vida escolar, uma ótima aluna de português, e escrever em diários desde os meus 11 anos de idade. Hoje aos 28 anos, ainda não descobri sobre o que, de mais relevante eu poderia, por exemplo, usar como tema para um futuro livro. Você já sentiu isso de não ter nada a dizer quando todo mundo já se propôs a escrever sobre tudo??? Pois é. Quando o professor lhe pede como tarefa do dia: “escreva sobre o que você quiser, o tema é livre”, então parece que piora a situação. Tem gente que adora, pois está cheia de assuntos, louca para opinar sobre temas da atualidade, dizer o que pensa. Eu não. Acho que, de certa forma, fui ensinada a esperar por direções, quando na verdade, a gente sabe que, até em uma conversa informal, em um bate-papo com amigos, a conversa sempre toma outros rumos. Na hora de escrever, isso tem que ser feito com cuidado para não fugir do assunto e distrair o leitor.
Eu continuo escrevendo. Quando fiz 10 anos de escrita nos meus diários e cadernos, em 2001, tomei conhecimento, na internet, dos diários virtuais, e aderi a este novo conceito de comunicação escrita, com a possibilidade de conhecer e compartilhar de outros pensamentos e modos de ver o mundo. Fiz o primeiro weblog. Hoje ele já não existe e, inclusive, com ele foi mais fácil deixar para trás uma Mayra que não corresponde em quase nada ao que sou hoje. E a escrita nos permite esse reconhecimento. Os assuntos, as dúvidas e lacunas, se modificam não só pela idade, mas pelas circunstâncias.
Às vezes me pergunto se realmente é jornalismo o caminho pelo qual quero trilhar, ainda que eu esteja no começo do curso, porém, contudo, meu tempo está se esgotando (porque a vida está me indagando sobre qual a minha decisão perante a vida, igualzinho o coelho de Alice). É que comigo, não me leve a mal, o tempo às vezes pensa que é Caymmi. Então percebo que é isso: para escrever, leva tempo. Leva o tempo necessário para amadurecer idéias, buscar argumentos, responder e/ou fazer perguntas. E por aí vêm as dívidas: sobre o que eu quero falar? Por que quero falar sobre este assunto? Para quem eu quero escrever? Quando o tema é esclarecido, já facilita uma outra etapa. Porque você não precisa escrever somente sobre algo que seja positivamente inspirador. E eu percebi que minha dificuldade também deve ser a dificuldade de muita gente, que, no eu caso, se equivale a classe a que pertenço: os estudantes universitários, e até mesmo para os que não o são. As pessoas comuns, que gostam da leitura, mas não se sentem seguras de escrever, acreditando que é preciso escrever tal e qual Mário Quintana, Machado de Assis, Darcy Ribeiro. Claro que, também não basta querer compartilhar uma idéia, uma opinião. Também tenho que pensar: “para qual direção caminha a minha escrita?!”
Quando me apropriei da tecnologia e passei a “postar” textos em meu weblog, produzindo gêneros textuais para cumprir uma demanda da atividade acadêmica, eu não escrevo pensando em ser uma renomada escritora. Escrevo alguns por inspiração, uns por exigência de professores, outros sem qualquer motivo (sem exigências, sem cobranças externas). Mas todas as maneiras se findam no objetivo de ter um certo reconhecimento por parte de quem lê. Agradando ou não, você espera que as pessoas se manifestem a respeito de seu texto. Porque estamos em uma era big brother, onde todos querem ser notados de alguma forma. “O desejo é o motor”, afirma Pierre Lèvi. Todos nós, enquanto humanos, temos, culturalmente a necessidade de nos comunicar, de nos fazermos compreendidos. Então aqueles mais desejosos de realizar a comunicação - indispensável a todos nós, - se aperfeiçoar, nesse caso, na escrita, na utilização de regras gramaticais,, dos argumentos, das abordagens, porque a utilização dessas técnicas acaba sendo fruto desse desejo de concluir a transmissão de sua mensagem. Técnicas essas, resultantes de um movimento da sociedade em prol da boa leitura, do domínio da língua, e que por isso mesmo, resigna essa sociedade, e delimita bem, quem escreve, quem realmente tem o dom da palavra, de quem não tem aptidão nenhuma, e esses se tornam submissos, menos valorizados intelectualmente, e é por isso mesmo que pode ocorrer a tal dificuldade em escrever, em passar do pensamento ao papel.
A utilização de weblog, já é, de qualquer maneira, considerada imprescindível para que os novos produtores de textos contribuam para a veiculação cada vez maior e melhor das mensagens. Confesso que até por isso tenho lido pouquíssimos livros inteiros. Com a facilidade de busca dos mais variados trechos, partes de livros, a leitura densa de materiais está deixando a desejar. A demanda do mercado não aguarda que sua inspiração, para escrever coisas interessantes leve tanto tempo. Há muita pressa em conclusões, em obter resultados. É preciso correr, “acorda, Alice!”, é colocado na história de Carroll.
Creio que consigo terminar este ensaio sobre o meu ato de escrever, quase com a sensação de dever cumprido. Quando troquei de tema por duas vezes, na insegurança sobre a relevância do que eu teria de inovador para refletir sobre tais assuntos, descobri que mais uma vez estava desencontrada do objetivo final ( e talvez nem saiba direito se consegui chegar a ele), ansiosa por ser levada a escrever com a única obrigatoriedade imposta: o ensaio deve ter uma quantidade mínima de páginas. “Mas, como farei isso??!!”, pensamos, eu e meus colegas de classe, a sala de aula preenchida por burburinhos, todos questionando o pedido impertinente da autoridade da sala de aula naquele momento. Relutei, me chateei com a minha insegurança por não ter um tema e tamanha argumentação para uma exigência do professor, e resolvi por um tema que me pareceu até possível de fazer com que as pessoas reflitam: a dificuldade do ato de escrever, e escrever muito. Mas um “muito” que não tivesse receita de bolo no meio, ou palavras de baixo calão como já vi acontecer numa universidade em São Paulo. Escrever muito e escrever bem.
Espero realmente que este texto não tenha tomado as características de uma simples conversa de bar, onde um assunto puxa outro e outro, e a idéia inicial tenha se perdido. Uma questão de inspiração? Um dom? Exigência do convívio em sociedade?? O que está por trás do ato de escrever bem? Eu acabo aceitando que as pessoas escrevem para serem reconhecidas. Para algumas não importa se seus textos são somente alvos de críticas, o que, aliás, pode ser um indicativo, dependendo de seus argumentos, de que as pessoas leram e discordam do que está escrito, e então o autor cumpriu o seu papel. Ele pensou em um tema. Um bom começo então é pensar. Pensar, porque escrever é fazer funcionar de maneira organizada a lógica do pensamento. O que vem depois do ato são as conseqüências, e a primeira delas é quando consegue seduzir o leitor. Não esqueço nunca de revisar. Desconfio do meu texto. Eu espero, inclusive, que eu tenha suprido uma leitura com exemplos para encorajar quem lê, a acreditar no seu potencial, que o que importa, de verdade, é começar. Mostro o texto para outras pessoas, me preparo para as críticas. E não desisto, eis um ato de coragem. Uma hora encontro meu estilo de escrever. Em meio a uma pilha de textos, me deparo com o poema “Elogio do Aprendizado”, de Bertold Brecht, que me diz exatamente para não desistir. E foi o que eu fiz.