sábado, 31 de março de 2018


Se as paredes desse corredor falassem levariam horas, dias, semanas, meses, anos para contar cada passo, cada riso, cada lágrima, cada abraço, cada conversa, cada momento que presenciaram. Se as paredes desse corredor falassem iriam me fazer lembrar de 900 dias da minha vida com facilidade. 

O mesmo quarto, o mesmo jeito de acordar, o mesmo banheiro, o mesmo problema no chuveiro, o mesmo reflexo no espelho. Li e reli a tal “sorte de hoje”, e geralmente, ela é repetitiva, porque diz que terei uma velhice confortável, o que acaba me garantindo que morrerei velha e feliz, ou seja, não terei dificuldades com contas a serem pagas, terei uma família estruturada, e provavelmente eu tenha uma cama confortável, ou um sofá, vai saber. A “sorte de hoje” sempre acaba me fazendo pensar além do que ela diz. Tem dia que eu não agüento ficar apenas andando entre cômodos, preciso transitar entre ruas e avenidas. Pego a jaqueta jeans e saio. Sempre o mesmo trajeto e o mesmo destino. Os mesmos "bom dia, Zé", os mesmos silêncios. Enquanto sigo minha rotina, me sento vez ou outra em um dos bancos amarelos do parque e percebo que em cada um daqueles bancos eu guardo uma lembrança em particular. Não farei mais planos para envelhecer e nem para ser uma avó contadora de histórias emocionantes de uma vida não tão emocionante. Acabarei não fazendo bolo de sorvete, e sim, veja que ironia, bolo de milho.


sábado, 10 de março de 2018


Quero te dizer que amo e sinto falta da insistência em certos carinhos tão seus. Amo, quando mesmo entre amigos e cervejas, pegas minha mão. Eu gosto de ver seus olhos abertos, divididos entre me fitar de soslaio e prestar atenção à conversa das pessoas na mesa que estamos. Penso: Sou feliz. Gosto principalmente de você correndo atrás de mim numa rua alagada, no meio de uma chuva infernal pisando nas poças pra me molhar irritantemente às gargalhadas. Lembro disso agora, sozinha neste quarto e o travesseiro, que não estamos dividindo, riu como se fosse você, bem da minha cara. Só consigo te odiar pelas faltas e ausências. Pelas mulheres de antes. Odeio suas certezas à meu respeito. Te odeio pela minha insônia. Mas a verdade é que sou sim, apaixonada. Fui ensinada a não falar de boca cheia e não pôr os cotovelos na mesa. No bar, então, entre amigos e cervejas, te prometo minha mão em cima da mesa, novamente à tua espera.



Depois de alguns meses vivendo na casa do meu namorado no Rio, finalmente voltei pra casa na Bahia. Nesse período, eu devo ter sentido mais coisas do que senti em todo o ano que já se passou. Uma coisa acontecendo atrás da outra. Das mais tristes, às mais alegres. No meio de todas elas, eu, tentando manter a calma e aproveitar o que tava ali pronto pra ser vivido. Teve dia que não deu, mas esses foram poucos.
Cheguei num sábado à noite, com uma lista imensa de coisas pra fazer: até seria ok fazer depois (mas para mim não porque é angustiante saber que o banheiro não tá limpinho ou que já tá dando pra morar dentro do armário de comida). Estava me sentindo triste pelo silêncio e solidão repentinos… E por falar em deixar pra depois, eu sempre amei ler, mas recentemente meu ritmo diminuiu. Finjo que não tenho tempo e ocupo todo espaço livre com outras futilidades. como beber café, por exemplo. Tem um certo glamour em beber café e que eu confesso que adotei pra mim. Quando bebo exageradamente, eu oscilo entre querer publicar um livro e salvar o mundo.
Desde que meu namorado decidiu passar as férias dele aqui na Bahia (já que não aguentamos muito tempo de saudade, como sempre), os dias passam devagar, - o dia de sua vinda se arrasta como um jabuti cansado. Troquei alguns móveis de lugar algumas trocentas vezes, vejo filmes antes de dormir para acelerar o sono, fiz uma faxinaço no apartamento, descobri que não tinha internet em casa e já passei mais cafés do que eu provavelmente deveria.
Atualmente ocupo sozinha o apartamento. Estou naquela ansiedade pela vinda do namorado, porque vou me teletransportar para todas as vezes que eu viajei para estar perto dele, encaixada na rotina dele. E aqui vai ser igual, mas um tanto diferente. Ele vai me conhecer mais, talvez prestando um pouco mais de atenção nas coisas que eu faço, do jeito que eu faço. Serão apenas duas semanas, mas espero que ele goste e que queira voltar mais vezes. E nessa ansiedade toda, forçar uma imagem super madura quando dentro da gente tá tudo confuso não significa nada.