sábado, 31 de março de 2018


O mesmo quarto, o mesmo jeito de acordar, o mesmo banheiro, o mesmo problema no chuveiro, o mesmo reflexo no espelho. Li e reli a tal “sorte de hoje”, e geralmente, ela é repetitiva, porque diz que terei uma velhice confortável, o que acaba me garantindo que morrerei velha e feliz, ou seja, não terei dificuldades com contas a serem pagas, terei uma família estruturada, e provavelmente eu tenha uma cama confortável, ou um sofá, vai saber. A “sorte de hoje” sempre acaba me fazendo pensar além do que ela diz. Tem dia que eu não agüento ficar apenas andando entre cômodos, preciso transitar entre ruas e avenidas. Pego a jaqueta jeans e saio. Sempre o mesmo trajeto e o mesmo destino. Os mesmos "bom dia, Zé", os mesmos silêncios. Enquanto sigo minha rotina, me sento vez ou outra em um dos bancos amarelos do parque e percebo que em cada um daqueles bancos eu guardo uma lembrança em particular. Não farei mais planos para envelhecer e nem para ser uma avó contadora de histórias emocionantes de uma vida não tão emocionante. Acabarei não fazendo bolo de sorvete, e sim, veja que ironia, bolo de milho.


Sem comentários :