terça-feira, 25 de março de 2008



Amiga de infância e pastel de camarão: para me dar conta de que as pessoas mudam, mas a vontade de ser/querer o melhor, ainda resiste ao tempo. Mais uma semana para começar. E se eu não puder te levar, quero que você me leve. Casa vazia, silêncios. Clarice disse que era feita de cadeiras e maçãs. Eu não sei do que sou feita. Abraço apertado de surpresa. Santa e puta. Quero gente ao lado e não quero ninguém. Um dia, me apontaram egocêntrica. Ego de quem? Sou egoísta e me dou tanto... Seria bom ser muitas. Nessa vida cheia de gentes, aprendi que lido bem com várias delas. Abstraio loucura, chatice, frescura, ironia, mentira, falsidade até. Mas não gosto de quem esnoba, vomita posses e intenções. Tenho uma batalha para travar logo de início: cabeça fria, coração na mão. É que eu não gosto de atritos, não fico bem com climas tensos. Abro logo uma torneira de água fria. Uma alergia que me dá por conta de estresse. Não gosto. E é sempre tão mais cômodo pôr a culpa na TPM. Os dias não andam bonitos: não vejo beleza em calor ultra insuportável. Me abraça, me leva para qualquer lugar, vamos tomar sorvete e brincar de pique-pega, baleado. O cão come mais uma sandália deixada à sua revelia. Droga de cachorro! Vontade de dançar, vontade de nada e vontade de correr, Forrest. Acho que preciso d'uma bicicleta e de um objetivo na vida. Preciso de brisa no rosto e calor das mãos. As suas. Não brinque de amor comigo, porque isso dói no final das contas. Mais em mim do que em você. Vivo amando, porque só respiro quando gosto.
Clarice uma vez escreveu que é preciso escrever distraído.
...
É distraída, e eu, domingo. Ops.



quarta-feira, 19 de março de 2008

Quanto vale?

É possível até que hajam as exceções, mas para falar a verdade, acho que todo mundo tem um preço, a diferença é o valor. Mas então não é porque eu critico o excesso, que eu sou a favor da falta. Quem é que não precisa de dinheiro para viver? Gostar de trabalhar para receber pelo seu trabalho, quem não gosta? Mas não penso no dinheiro como fim e sim como meio.
Acho realmente hipocrisia dizer que não se tem um preço. Em alguma circunstância há essa promoção. Nem que seja aquele que exige caráter, integridade, honestidade, carinho, respeito e amor.
Não se trata apenas de valor monetário, e sim, do quanto você se dá, se entrega, em troca de reconhecimento, sucesso, amor, carinho, piedade.

...

Escrevi um texto, há uns 3/4 anos, que retrata esse assunto, que fala de "entrega" ou da ausência da mesma. Das coisas que se faz sem esperar em troca, ou será que sim, a gente sempre espera alguma coisa em troca?!

Dentro desse peito bate um coração mexicano
Porque eu sou uma puta.
Eu dou. Para todo mundo.
A pôrra do meu tempo que eu não tenho. As minhas vontades. Os meus segundos, os meus instantes, o horário de jantar que eu não faço. Eu dou. O horário do meu banho, o esforço, as idéias, as opiniões, as críticas, os elogios, a energia. Toda. Eu dou tudo, perceba. Para todo mundo.
Eu masturbo o ego de todos os homens que me cercam e acaricio de leve as inseguranças das mulheres. Escrevo textos. Envio e-mail`s.
Na minha lista de prioridades, fique tranqüilo. Você vem primeiro! E você, você e você também. E mais aquele cara que eu nunca vi na vida. Todos vocês vêm na frente. Nessa lista, queridos, eu sou a última.
Eu sou a santa mais puta que conheço.
Porque eu dou tudo: sangue, garra, vontade, suor, dinheiro, cabelo e pele, em troca da crença idiota e falsa de ser desesperadamente gostada.
Mas por quem, meu deus?
Por quem?
...
Eu sou capaz de estender a mão, o pé, o braço e o corpo todo para ajudar se, em troca, meu bem, você disser que gosta um mínimo de uma Mayra.
Vem. Me come. Me tira o couro. Me mata.
Eu ainda vou te pedir desculpas por ter esbarrado no seu dedão do pé sem querer naquele momento de aflição enquanto você apertava o meu pescoço até sufocar.
Em troca, por favor, diz que se importa?

(Agora chega, né?! Sai, Maria do Bairro, desse corpo que não te pertence!)




quarta-feira, 12 de março de 2008

O sertão de dentro de um homem

"Rebelde Desconhecido", Jeff Widener(China-1989)




"ZOINHO - 10 ANOS", Evandro Monteiro(Brasil-2004)



...
Eu sei o que, ver e colocar, juntas essas duas imagens me causam.
Idealizar que ainda existem seres humanos que se sentem capazes de fazer o mínimo para enfrentar os problemas, confrontar as "verdades", é quase tão esperançoso quanto acreditar que um dia, a gente terá voz de comando também.



terça-feira, 11 de março de 2008

- Um “A favor” para viagem, por favor!

Dentre muitas coisas que a gente consegue ser “a favor” na vida é a de ser reprimido, mesmo que indiretamente. A favor da pena de morte, a favor da paz, a favor das cotas nas universidades, a favor da liberdade de expressão, a favor das aulas aos sábados. Ser “a favor” é, a princípio apoiar, concordar com alguma situação ou estado das coisas.
Eu sou a favor da volta ao contato com os vizinhos, por exemplo; de ter a quem recorrer para regar a planta em uma viagem longa, ou acender as luzes durante a noite para evitar os maus olhares do bairro, ou a boa e velha desculpa da xicrinha de açúcar! Pensa só, que delícia de retorno aos bons tempos (quando se tinha tempo)! Quando sentava-se na varanda de casa para tomar ar fresco, ver os passantes, comentar a vida alheia.
A vida tão concorrida não nos deixa com tempo de sentar pra um chopp-conversa-sem pressa, risos e silêncios. Nos fechamos em mundos de reality show, olhamos o outro com desconfianças, ainda abaixamos cabeça n’um tímido bom dia no elevador. Tudo com menor intensidade e calor humano. Até que fica incompreensível saber que felicidade é essa que buscamos ainda, infinitamente.
Não é tão difícil perceber que das menores relações é que se desencadeiam as maiores guerras. Se cada um de nós fosse bom vizinho, imagine quantas brigas, picuinhas, desabores por causa das infiltrações, muros caindo, roupas nos varais pingando no varal do outro, poderiam ser evitados com diálogos mais amorosos e cuidadosos, com pedidos cordiais.
Eu sou a favor de Associações de Bairros, e também das reuniões de condomínio. Mesmo que, tenho certeza de que para muitos, perder a novela para ouvir quem não tem nada melhor para fazer, discutir o que pode ser feito para melhorar o azulejo do 5º andar, seja um fardo.
Ah, tsc, um outro absurdo é uma pessoa contratar um vigia para sua casa. Como se dá isso? Você não sabe quem são as pessoas com quem divide os muros, e ainda assim, e justamente por isso é que você não se sente seguro??
Por essas e outras é que eu afirmo sempre: a minha felicidade está nos pequenos gestos, os sinceros; nas palavras de amizade, ainda que diferentes das minhas. Ser a favor de ter e falar com vizinhos é porque ninguém no mundo é uma ilha, disse um pensador. O homem é um ser social, e ele é um privilegiado: tem o dom da fala, da comunicação. Sejamos comunicativos. Façamos o possível para deixar a vida um pouco mais lenta e perceptível, e possível de ser deliciada, com o outro, com o próximo.
Dito isto, só quero complementar que, por mais implicante, barulhenta e fofoqueira que seja a mulher da casa ao lado, meu deus, de alguém tem que partir o primeiro passo para a conciliação, afinal de contas sua vida pode depender de uma dessas pessoas tão estranhas, porém tão próximas.




domingo, 9 de março de 2008

Roteiro para um videoclipe



O apartamento mal iluminado. Janela aberta. Venta bastante. Céu nublado. Marcelo assiste à TV, um modelo pequeno e antigo daquele sem controle remoto, sente o vento frio. Vai para a janela e a fecha. Ainda parado, olha para o céu. Vai chover de novo, deu na TV, que o povo já se cansou de tanto o céu desabar, e pede ao santo daqui, que reza ajuda de Deus, mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim... Lá embaixo, na rua, o movimento das pessoas e dos carros tentando escapar da chuva, deixa-o pensativo. Entre as pessoas, está Rita, que olha para o céu. Abre o guarda-chuva. A chuva cai. E fica cada vez mais forte.
Ao lado de Rita, a "imagem" de Marcelo tomando banho de chuva, como se a guiasse, mas Rita não percebe sua presença.
Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar, não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade... "Chegam" no prédio de Marcelo. A "imagem" de Marcelo não entra. Rita sobe. A porta do apartamento está aberta. Rita entra, olhando todo o apartamento, examinando-o. Recolhe alguns de seus objetos, colocando-os na sacola. Marcelo permanece na janela, aquele olhar desolado, de quem tem uma certa culpa, em silêncio. Por um momento, Rita pára. Suspira. Vira-se para Marcelo. Quem é você pra me chamar aqui, se nada aconteceu? Me diz... Foi só amor, ou medo de ficar sozinho outra vez? Cadê aquela outra mulher? Você me parecia tão bem... A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar... E, num surto de fúria, fala com Marcelo, é uma cobrança, um acerto de contas. Ela insiste em ter a atenção de Marcelo, mas o mesmo nem se vira, era como se estivesse envergonhado para encará-la. Quem foi que te ensinou a rezar? Que santo vai brigar por você? Que povo aprova o que você fez? Devolve aquela minha TV, que eu vou de vez... Rita desiste de falar com ele. Continua recolhendo objetos seus pelo apê. Continua balbuciando queixas. Não há porquê chorar por um amor que já morreu. Deixa pra lá, eu vou, adeus. Rita ajeita a sacola e vai saindo, meu coração já se cansou de falsidade... Na portaria, Rita abre o guarda-chuva, a sacola cheia na mão, caminha a se perder de vista da "imagem" de Marcelo, que parara na portaria, e ali mesmo permanece, tomando banho de chuva.



By Mayra Araújo & Joanna Araújo

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Nós que aqui estamos por vós esperamos"

Comentários


Eu particularmente gostei do filme. Acredito que, quem tenha um mínimo de sensibilidade tenha até se emocionado, como eu.

A crítica ao mundo moderno no qual estamos inseridos. As consequências desse mundo tecnológico para o século XX, o quanto somos nós mesmos, vítimas e culpados por tudo.

Obviamente quando digo isso, estou pensando pelo lado negativo, as guerras, a falta de contato humano, a ânsia pelo poder que sempre gerou desigualdades, o quanto nos tornamos intolerantes com o próximo e não respeitosos com quem é diferente, e pensa diferente.

No lado positivo há muito o que se dizer também. A ciência evoluindo e as curas para as doenças aparecendo, por exemplo. A facilidade de nos locomover em grandes distâncias, a comunicação possibilitada por invenções que também sofreram muitas evoluções em um mesmo século (telefone, TV etc). O discurso é: evoluir para melhorar a qualidade de vida.

Gostei da restrospectiva (mesmo não tendo uma cronologia certinha; que se assemelha a um "mosaico", ou recortes de imagens) a que o filme nos leva; e de saber que "personalidades", que eu sempre soube serem importantes, estão contextualizadas no filme, e até o fato de pessoas comuns terem suas histórias contadas de forma sutil, e forte.




Tá com tempo?

Oi.
Sabe o que é que é? Nada não. Meio completamente sem assunto. Vontade de colocar você no meu colo e falar coisas bonitas e bobas. Sabe o que "rola na vitrola sem parar"? Tim Maia. Você é algo assim... Que me traz muita saudade. E uma vontade de fazer uma coisa gostosa pra você comer e depois dançar no escuro meio bêbada-estilo-Ângela Rô Rô, pisando no seu pé e morrendo de rir. Não sei. Ando com umas vontades assim. Amor, meu grande amor, me chegue na hora marcada, como é que está tudo? Hoje é dia de não conversar e ficar tudo bem. Tudo bem, em termos, minha bochecha quente diz muito sobre minha condição cristã-ocidental, tão em moda nos dias de hoje. Mas fora isso, tudo bem de verdade. Queria era fazer um poema lindo como você e depois ficar olhando, com a mão no queixo e rindo como quem espera um riso de volta, de agrado, não demora, meu sorriso, te preciso. Só rindo...
E olhar pros seus olhinhos que fazem de conta que eu não estou olhando, e te olhar meio de lado, pra ver se eu consigo entender alguma coisa, e o seu jeito de deixar tudo de lado, e arriscar tudo de novo com paixão... Mas depois você sai e me dá uma fungada... Eu ainda tenho "cheiro de casa"? Você ainda tem.
O início. Vontade de fazer tudo pra te ver feliz, rindo e mordendo a língua. Eu, muito Bethânia como sempre, amada-amante, tendo a arte de sorrir cada vez que o mundo diz: não. Vontade de fazer tratamento de choque com você. Nada de doses homeopáticas. Algo como "te cerco tanto que é impossível fazer blitz e flagrar a ladroagem"...
Uma vontade, assim, de ficar no escuro contando histórias esquisitas e morrendo de rir. Tenha calma, não se vá, meu popstar, tenha fé. Te prometo vir a ser do jeito que você quer: um amor de mulher... E você vai quando? Ainda tem tempo pra um chopp-conversa-sem pressa, risos e silêncios? Ainda tem tempo de me beijar segurando meu rosto e ver que a minha bochecha está quente?

Não vale dizer nada, a não ser qual música eu devo colocar.
Beijo.




(1º de julho de 2004)





terça-feira, 4 de março de 2008

Escrevendo em torno do sofá e bebendo vinho ouvindo Simon & Garfunkel.
Aos 15 não imaginei que me transformaria no que sou hoje. E também não quero saber como serei nos próximos 10 anos. Se vou continuar sendo, se serei mais, se terei menos. Não me importa. Futuro, para mim, tem que ser o minuto adiante, o Presente a gente saboreia, vivencia: conversa no msn com primo que tá lá na capital do país. Lá mesmo, no Cerrado, onde pisei um dia; saudade de lá? Quase nenhuma. Mas há sempre a nostalgia. Sempre há. Ouvindo For no one faço uma oração aos deuses momentâneos. Vontade de fazer curso de Fotografia. Vontade de ficar no pertinho de alguém mesmo que só em pensamento (volte logo, moço). Desejos de realizar tanto de tudo, que esse tempo na Terra parece não ser suficiente. Mesmo que tenha que ir embora um dia, como todos os mortais, ter ainda a certeza de que serei amiga no AlémdaVida, e como mera troca, escutar de presente: serei se você for.
Obrigada.
Ouvindo Gavin Degraw na 2a taça. Hoje me perguntaram se eu já frequentei Igreja e se eu sou, assim, como dizer, uma "desertora". Eu disse: Como? E me disseram que eu tinha um jeito brejeiro de quem fora cristã... Me chamando de "Carola"... Nem me incomodo. Por detrás dessa couraça tem, sim, uma pessoa doce, mas até doce demais, que não sabe se impôr; que o charme é essa passividade diante das situações.
"Eu disse: perto, e aí vi tudo looonge. Ele disse: perto. Eu disse: está certo. Ele disse: está tudinho errado...(Ah!) Ele disse: (Mayra, minha filha,) abre o olho." Sempre Gil. E junto, essa saudade de um cara fodástico que eu amo e que a vida nos afastou. Rolou um cisco: nos dois olhos. Na vitrola Everlasting love. Ouça, que só faz bem, e 'siga no rumo da manhã, rindo sozinho dos pensamentos que se tem, com festa e vinho'. Saudade essa que tem endereço certo, como dizem.
Lembra, amiga, do papo de casamentos... A minha vontade voltou, te contei, e a experiência em encontrar o vestido de noiva de minha mãe entre os seus guardados, reacendeu a ideia, porque o vestido coube di-rei-ti-nho. Ai, meus deuses!
A taça, a última, eu juro. Os cães resolvem brincar. Ouço Vilarejo Íntimo. O tempo passa, mainha em Manaus: pensamento nela.
É certo que vou ali ligar a TV, e ao fim da taça, adormecer.


(17/08/2007)