terça-feira, 11 de março de 2008

- Um “A favor” para viagem, por favor!

Dentre muitas coisas que a gente consegue ser “a favor” na vida é a de ser reprimido, mesmo que indiretamente. A favor da pena de morte, a favor da paz, a favor das cotas nas universidades, a favor da liberdade de expressão, a favor das aulas aos sábados. Ser “a favor” é, a princípio apoiar, concordar com alguma situação ou estado das coisas.
Eu sou a favor da volta ao contato com os vizinhos, por exemplo; de ter a quem recorrer para regar a planta em uma viagem longa, ou acender as luzes durante a noite para evitar os maus olhares do bairro, ou a boa e velha desculpa da xicrinha de açúcar! Pensa só, que delícia de retorno aos bons tempos (quando se tinha tempo)! Quando sentava-se na varanda de casa para tomar ar fresco, ver os passantes, comentar a vida alheia.
A vida tão concorrida não nos deixa com tempo de sentar pra um chopp-conversa-sem pressa, risos e silêncios. Nos fechamos em mundos de reality show, olhamos o outro com desconfianças, ainda abaixamos cabeça n’um tímido bom dia no elevador. Tudo com menor intensidade e calor humano. Até que fica incompreensível saber que felicidade é essa que buscamos ainda, infinitamente.
Não é tão difícil perceber que das menores relações é que se desencadeiam as maiores guerras. Se cada um de nós fosse bom vizinho, imagine quantas brigas, picuinhas, desabores por causa das infiltrações, muros caindo, roupas nos varais pingando no varal do outro, poderiam ser evitados com diálogos mais amorosos e cuidadosos, com pedidos cordiais.
Eu sou a favor de Associações de Bairros, e também das reuniões de condomínio. Mesmo que, tenho certeza de que para muitos, perder a novela para ouvir quem não tem nada melhor para fazer, discutir o que pode ser feito para melhorar o azulejo do 5º andar, seja um fardo.
Ah, tsc, um outro absurdo é uma pessoa contratar um vigia para sua casa. Como se dá isso? Você não sabe quem são as pessoas com quem divide os muros, e ainda assim, e justamente por isso é que você não se sente seguro??
Por essas e outras é que eu afirmo sempre: a minha felicidade está nos pequenos gestos, os sinceros; nas palavras de amizade, ainda que diferentes das minhas. Ser a favor de ter e falar com vizinhos é porque ninguém no mundo é uma ilha, disse um pensador. O homem é um ser social, e ele é um privilegiado: tem o dom da fala, da comunicação. Sejamos comunicativos. Façamos o possível para deixar a vida um pouco mais lenta e perceptível, e possível de ser deliciada, com o outro, com o próximo.
Dito isto, só quero complementar que, por mais implicante, barulhenta e fofoqueira que seja a mulher da casa ao lado, meu deus, de alguém tem que partir o primeiro passo para a conciliação, afinal de contas sua vida pode depender de uma dessas pessoas tão estranhas, porém tão próximas.




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