quarta-feira, 25 de março de 2009

Essa ruga entre as sobrancelhas. Celulite nas coxas. Os ombros mais arredondados. Mas a melhor coisa que a idade tem me trazido é o livre arbítrio pra chorar. No cinema, vendo televisão e ouvindo Elis.

A idade me ensinou a chorar sem autopiedade nenhuma, chorar pra pôr pra fora uma emoção qualquer, boa, ruim. Chorar sem por isso me achar uma mulher pequenininha e covarde. Quando eu era menina me sentia uma frouxa idiota quando chorava. Mas agora eu sou gente grande, posso viajar sozinha, tomar porre, assinar cheque, responder em juízo, comer feijoada de noite, e chorar sem ter de me transformar na criatura mais mulherzinha-frouxa-covarde-desprezível-feia-boba e cara de mamão do planeta.

Chorar, pôrra, por que tô com vontade, vão todos se lascar, os indecisos, os esquisitos, os anormais que eu amo (e desamo, com voraz facilidade), vão todos sentar na graxa, pro raio que os partam, que o choro é livre e constitucional, e eu choro quando quiser, ou não choro, se não quiser também.

Me deixa, ou me abraça, ou fica perto, ou fecha a porta e some, ou abre a porta e chega como se tivesse vindo de outra galáxia. Mas não repara que eu tô morrendo de vontade de chorar e quero ver quem é macho o suficiente pra impedir uma mulher do meu tamanho de fazer o que quiser.



(Abril de 2005)

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